segunda-feira, 25 de outubro de 2010

COMO É BOM SE SURPREENDER

Eu não gosto de passas. Mas quando eu vejo que um prato foi elaborado de forma que passas fazem sentido, eu não deixo de comer e muito menos separo as passas.
Arroz com passas, não como. Nao vejo sentido. Mas apfelstrudel com passas eu como. Vejo sentido.
E assim eu sigo. De maneira que poucas vezes eu deixo de provar algo e não raro eu me surpreendo positivamente e vejo como se permitir experiências novas é bom quando o assunto é comida.

Hoje foi um dia desses. Fui conhecer o restaurante Domitila, da Larrissa Aguiar, em São Paulo. É um buffet executivo, daqueles restaurantes bem pra quem trabalha ali pela região do Itaim. Já devia essa visita a ela e também estava curiosa para conhecer a proposta da qual ela fala com tanto orgulho. Larissa tem uma história de empreendorismo que me fascinou desde que a conheci.

Confesso que já na entrada, vendo o buffet montado, já fiquei com invejinha de quem tem aquela opção de almoço perto do trabalho. A minha realidade nesse assunto é tão dura que metade daquela intenção da Larrisa pra mim já estaria excelente. Porque comida do dia a dia, naquela uma horinha que temos no trabalho, precisa ser ruim? Larissa mostra que, com amor ao que se faz e servindo comida temperada na honestidade, isso pode ser diferente.

Bom, mas papo vai, papo vem, um belo cuscus paulista de palmito pupunha aqui, uma deliciosa beringela com castanha picadinha em cima ali, uma inacreditável endívia recheada com pera assada cá, um pão de escarola e tomate molhadinho acolá e eis que chega a hora da sobremesa. Eu já sabia quais eram as duas opções: creme de abacate com crocante de castanha e creme de cupuaçu com brigadeiro meio amargo. Não tive dúvida e já pedi que ela guardasse pra mim: creme de abacate, oras.

Primeiro porque eu amo abacate. Segundo por que, confesso, não sou muito fã de cupuaçu. E poucas vezes peço sobremesas de chocolate. Mas... no meio do caminho havia Larrisa, havia Larissa no meio do caminho. Não é que ela mandou vir as duas à mesa pra eu provar? Ok, não era uma tarefa lá muito dura, ne? Comecei com o creme de abacate e raspei o prato. Eu sabia que tinha ainda um segundo round mas estava bom demais!

Aí, fui lá eu provar a segunda sobremesa. Nào foi por delicadeza, não. O negócio tava bonito.... No que coloquei a colher pra pegar as duas camadas juntas e levei à boca.... hummmmmmmmmmm..... Bingo! Fui pega! Agradeci ter provado, agradeci o fato de a Larissa nem ter perguntado se seu queria! E me vi naquela situação descrita no começo do post. Gostei tanto que, mesmo o creme de abacate estando tão bom, não sei dizer do que gostei mais.

Larissa, parabéns pelo seu projeto, foco e dedicação.

Paulistanos, se permitam um almoço no Domitila mesmo se você não trabalhar por ali. Você vai, assim como eu, se surpreender com alguma coisa.

Domitila - Rua Clodomiro Amazonas, 99, Itaim, São Paulo.




segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A MELHOR COMIDA DO MUNDO - sem sacanagem, é a da minha mãe

Sou de uma família de italianos, do lado de pai e mãe. Na cidade onde meus pais nasceram, no interior de São Paulo, talvez 90% da população seja de descendência italiana. Em Tietê, a 150 KM da capital paulista, é comum ter o sobrenome só do pai (como é o meu), as festas religiosas são as mais tradicionais e todas as comemorações são com muita gente, a familia toda, em volta de uma mesa, com muita fartura de comida e bebida. Os almoços são demorados. A agricultura ainda faz parte da tradição. É comum as famílilas terem horta e pés de frutas nos jardins de suas casas. A vida passa devagar por lá. Pelo menos pelos meus óculos, de quem vive no Rio.

Curiosidades sobre Tietê sempre me ficaram na cabeça, como por exemplo: um restaurante pra durar lá é difícil... Padaria tem de monte. Uma em cada esquina. Mas restaurante... Alguns poucos a kilo que funcionam durante a semana. Em Tietê as pessoas almoçam em casa.

Na minha família, minhas avós cozinhavam mas tenho poucas lembranças da comida delas. As perdi muito cedo. Da minha avó paterna, um doce de abacaxi. Da materna, tenho mais: ela morava no sítio e com o leite que meu avô tirava da vaca de manhã bem cedo ( e que por muitas vezes eu acordava para levar meu copinho com açúcar para ele encher direto da ordenha) ela fazia queijo. E guardava um inteiro pra mim pra quando eu chegasse do Rio. Eu amava aquele queijo, o melhor queijo fresco que já comi até hoje. Ela também fazia massa de torteli, ravioli, etc.

Minha mãe aprendeu a cozinhar com minha vó mas com certeza ela tem um dom maior. Quando eu era pequena, iogurte e geléia eram caros. Minha mãe então fazia. E que saudade tenho daquele iogurte! Lá em casa, crescemos almoçando e jantando comida boa, feita pela minha mãe. Arroz, feijão, carne, muito peixe, um legume refogado e salada, sempre! Nào tinha essa de lanchar, era janta mesmo! Então eu, meu pai e meus irmãos comemos bem, temos bom paladar, pra nos enganar é difícil. Mas enganar a minha mãe, é pior. Desde a compra do ingrediente até na hora de fazer, hoje fico observando e queria estar mais perto para poder aprender mais. Tudo é simples mas divinamente saboroso. Meu sobrinho é bom de garfo e eu acho que muito desse jeito dele de comer de tudo e gostar de tudo é pela convivência com a comida da minha mãe. Ele diz que o ingrediente que ela mais usa é o amor. "nisso ela exagera!", me disse um dia do alto dos seus 9 anos. Eu acho que ele tem razão.

Enfim, nos últimos dias eu tenho tentado aproveitar cada minuto da possibilidade de comer a comida da Dona Gê (nome da minha màe), afinal moramos longe uma da outra. Quando estou em São Paulo ou no sítio, é uma alegria. Nesse post queria dividir com vocês a polenta com frango caipira que ela fez no aniversário do meu pai. Receita da mãe dela, com um molho de fazer flutuar. Uma simplicidade que é puro requinte. Só não comi ajoelhada por que as mesas lá de casa são animadas pra chuchu! (como vcs podem perceber pelo áudio do vídeo abaixo, é um falatório sem parar!)



Depois dessa polenta, um almoço improvisado, segundo ela, antes de eu voltar pra casa: arroz e feijão frescos, repolho refogado e carne moída. Pra voltar ainda mais no tempo, eu coloquei uma bananinha do lado. A carne moída da D. Gê é diferente, é algo. Uma amiga, Fernanda, não come carne moída e quando comeu a da minha màe não acreditou. Perguntou o segredo: alcatra moída e não carne de segunda. A carne é bem sequinha, não fica com gosto de carne crua. E o tempero: tomate picadinho sem semente, salsinha, cebola, limào e um tempero de família que ela e todas as irmãs delas, minhas tias, fazem que é ouro em pó pra temperar. A quantidade é um mistério mas vai muito alho, manjerona, muita salsa, sal, cebola e óleo só pra ajudar a bater. É isso. Sempre tem um pote aqui em casa.

Todo esse post é pra dividir um pouco minhas origens, quem eu sou e fazer uma homenagem à comida caseira, principalmente a da minha mãe. Outro dia fui almoçar na Pousada Alcobaça, da Dona Laura. Ela é muito festejada pela carne assada e pela comida caseira que faz lá em Petrópolis. Longe de desmerecer a Dona Laura pois a comida dela é uma delícia, daquelas que faz você sentir o gosto de tudo, mas a minha mãe se abrisse um restaurante aqui no Rio faria tanto ou mais sucesso que ela. Quando fui comer na Alcobaça, saí com uma saudade da Dona Gê....

APPLEBEE`S - Fuçando o sabor aparece! Vai por mim!

Morando na Barra da Tijuca, você vai acabar, uma hora ou outra, experimentando esses restaurantes americanizados por aqui. Não tem jeito. Ainda que a cada dia vamos ganhando novas opções por aqui. Mas não tem jeito. Um dia você vai cair no Outback - e pode até descobrir que ali tem um bom corte de carne -, no Fridays - e descobrir que ali nem a fritura presta - e no Joe & Leo`s - e ficar triste ao perceber que o que era bom ali tá cada dia mais sem gosto.

Pois dia desses caí no Applebee`s, no New York City Center. Inaugurado em 2007 - apesar de a rede estar no Brasil desde 2004 - eu nunca tinha ido. Muito por que fujo do NYCC. Mas ao entrar no restaurante já gostei do ambiente. Jovem, animado, cheio, claro, atendimento simpático... Já tirei um dos meus dois pés atrás.

Animados com os drinks, coloridos e saborosos (tomei o meu de gut gut), fomos fazendo um rodízio de quitutes pra experimentar várias coisinhas. Mais americano, impossible. E eis que, em meio a várias itens do cardápio que visitaram nossa mesa, uma coisa me pegou no contrapé: o BBQ Pulled Pork Sliders. Hein? Hã? Esse nome todo todo nada mais é do que um mini sanduíche saboroso, suculento, de pão bem macio e recheado de costela de porco defumada desfiada e banhada levemente num molho (acho que barbecue) com fatias de picles. Sem dúvida, foi o que de melhor comi ali, ainda que os outros pedidos também estivessem gostosos. Mais do que ser o que de melhor comi ali, me deixou saudades e na próxima vez eu vou só ficar nele. Sim, senhores, poderá sim existir uma próxima vez! Tudo culpa desse senhor aí. O gosto é quase caseiro, o que me deixou impressionada numa rede de burguers e afins como essa. Com um pinguinho de um dos 5 tipos de Tabasco que eles oferecem, fica imperdível.

Ao final dos salgados, fui pro doce. E aí..... Confesso que essas sobremesas enormes, desses restaurantes americanos, me deixam confusa e enjoada. Nào gosto de sobremesa com nome de "trovão" e coisas do tipo. Mas o casal que estava comigo pediu a torta de maçà e eu disse pra mim mesma: experimenta!. Ainda bem. Amigos, trata-se de uma torta de maçã com pouca massa embaixo, uma camada crust de nozes em cima, que vem numa tábua de ferro quente, com sorvete de creme e calda de caramelo. É de fato muito boa. Tudo combina e a calda de caramelo é uma C-O-I-S-A! Você joga a calda, ela desce sobre a torta, bate no ferro quente, borbulha e tudo fica mais perfeito ainda!
Enfim, depois de um cinema, o Applebee`s me pegou de jeito e me mostrou que é americano, sim. Mas que nem por isso abre mão do sabor. Já tô ficando com vontade de comer um sanduichinho de costela daqueles....


Applebee`s: Avenida das Américas 5000. tel.: 2432-4732. Funciona das 12h às 23h, sendo sexta e sábado até 1h.
Outros enderços em www.applebees.com.br

LA FIORENTINA - Não vive só da tradição

Depois dos 3 útimos posts pauslitas, olhei pra minha listinha de posts a fazer (nunca mais vou deixar acumular, prometo) e escolhi o mais carioca deles: o La fiorentina, no Leme.

Há cerca de um mês fui lá com um amigo, morador do Leme. Esse meu amigo é daqueles que você bate o olho e logo vê que lugares tradicionais são com ele mesmo. O La Fiorentina foi fundado em 1957 e foi muito frequentado por artistas e pela boemia carioca. Ah, sim. Lugares boêmios é com ele também! Do meu lado, bateu uma vontade enorme de revisitar aquele restaurante que frequentei tanto nas madrugadas, pós fechamento, quando trabalhava na Abril, em Botafogo. Faz só uns 7, 8 anos.... E era sempre uma certeza de comida boa, de aconchego depois do trabalho intenso. Ia para casa felizinha.

Nesse almoço com meu amigo, Rodrigo, não foi diferente. Sentamos na agradável varanda, com vista para a praia do Leme e para a estátua de bronze do compositor Ary Barroso. Um vinho regou o papo mas quando a comida foi chegando que percebi que ali, graças a São Lourenzo, o sabor ia além da tradição.

Como entrada, pedimos o clássico camarão à fiorentina, marinado no vinho branco, alho, azeite, pimenta e limão. Saboroso, no ponto ideal do camarão. Acompanhado pela focaccia da casa, então.... era um excelente começo!





Como a entrada veio em porção generosa, o prato principal nós decidimos dividir e ver como ficava a fome. Escolhemos o arroz de polvo com brócolis. Confesso que fiquei curiosa mas ao mesmo tempo medrosa pois polvo é aquilo: ou é muito bom ou é muito ruim. Não tem meio termo, não tem um "dá pra comer". Respirei fundo e pedimos! Ainda bem! A quantidade veio na medida pra nós dois, o polvo era em fartura assim como o brócolis, bem picadinho e misturado no arroz. Me acabei!

Eu até lembro que a gente comeu sobremesa, que estava boa, mas não lembro o que era. Nada que eu devesse falar pra vocês não comerem mas também não deve ter ficado à altura do prato principal.

Saí do La Fiorentina com uma sensação muito boa e principalmente: de que o que eu paguei estava condizente com o que comi.

E pra não dizer que não falei das rosas, o único senão do almoço foi um leve deboche do garçom no atendimento (odeio deboche). Nada que o maitrê nào tenho consertado depois.

La Fiorentina: Avenida Atlântica, 458, Leme. Tel.: 2543-8395. Durante a semana, fica aberto até as 2h! e aos sábados, até as 4h! Viva!